sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Entrevista com Dj Nato Pk





Nato, muito obrigado por separar um pouco do seu tempo pra responder  as perguntas pro Sampleologia.

- Como foi seu início na produção dos beats? Quando começou e quais eram seus recursos?

Dj Nato: Em primeiro lugar, obrigado Nandes Castro pelo convite, acompanho esse excelente blog desde sua primeira entrevista.

Sou DJ desde 97 e comecei a fazer instrumentais em 2001 quando conheci pela primeira vez um estúdio de gravação, estúdio esse do DJ Paul (RPW). Nessa época estava rolando o processo de gravação do demo do grupo que eu fazia parte, o Polemikaos.
Identifiquei-me com o processo. O Paul explicava passo a passo como samplear, montar baterias e tudo mais. Nesse mesmo período adquiri um Playstation 1 e, um amigo apresentou um “jogo” da  MTV em que era possível seqüenciar baterias, loops, synths e tudo mais. Era bem parecido com os softwares que o Paul usava. Fuçando então, eis que descobri que o vídeo-game sampleava alguns segundos de cd de áudio. Foi a festa!
 Um dos instrumentais gerados no vídeo-game pode ser conferido na música “Sem Fama e Sem Glória” do Polemikaos, música essa registrada em vinil, além de 8 instrumentais no álbum do Armagedon. Depois adquiri um PC, o André Sagat me apresentou o Fruity Loops e a coisa foi evoluindo, desde então.

- Hoje em dia o acesso a um computador e softwares é fácil, todo dia surgem novos beatmakers graças a essa facilidade. O que você vê de conseqüência nisso?

Dj Nato: Realmente hoje temos uma grande safra de beatmakers no Brasil. A cada dia aparece um novo. Pra mim é bacana ver o grande interesse na área, mas é preciso se especializar no assunto, estudar, praticar, treinar o ouvido para a música, buscar referências e encontrar a sua característica como beatmaker, o que demanda tempo.
Hoje essa “facilidade” também gera uma “facilidade” na hora de fazer a peneira do que é bom e do que não é.

- Nas suas composições você usa quase somente samples, tem alguma preferência por algum gênero musical na hora de samplear?

Dj Nato: Não, não me prendo a estilos, gêneros. Vai do momento de ouvir o sample e sentir que ele pode ser trabalhado. Como recorto muito meus “sampleados” eles ficam praticamente irreconhecíveis. Já useis e uso samples de várias décadas, 60´s, 70´s, 80´s e 90´s.

- Quais são suas ferramentas na produção dos instrumentais?

Dj Nato:  Temos um home estúdio com os recursos rotineiros, mesa de som, mic, uma boa placa de áudio, monitores de referências, etc.
Atualmente, utilizo os velhos Sound Forge e Fruity Loops para criar as batidas. Utilizo poucos instrumentos virtuais, mas tenho como controladoras uma Akai MPD32 e uma Akai LPK25. Adquiri uma Akai MPC2000 e aos poucos estou me adaptando a ela. Para o processo de gravação e mixagem utilizo o Logic.



- Você além de beatmaker também atua como produtor musical? Todo Beatmaker é um Produtor Musical?

Dj Nato: Com o passar dos anos, fui me aproximando mais e mais dos processos em que minhas batidas estavam envolvidas. Como temos um selo independente foi inevitável eu acabar me envolvendo com a supervisão dos discos. Então hoje não sou só responsável pela criação das batidas, como também participo e acompanho o processo de gravação, captação de instrumentos, mixagem, alguns pitacos na masterização, até chegar ao produto final que é o fonograma, o disco.  Já tive a oportunidade de assinar álbuns inteiros como produtor.
Completando a resposta, nem todo beatmaker é um produtor musical. Alguns só são responsáveis pelo processo de criação do instrumental e ponto.

- Explica pra gente o que é o processo de mixagem e o processo de masterização?

Dj Nato: De forma bem simplificada, a mixagem consiste em ajustar ou nivelar cada elemento da música, de forma que se possa ouvir com clareza todos que ali fazem parte dela, ou seja, balancear volumes, equalizações, efeitos, pan, compressão, deixando em uma margem de volume para que possa ser trabalhado a masterização.
Na master é dado o tratamento final na musica fechada, nivelando volume final, equalização e compressão. Sempre busco referências em discos que gosto da qualidade para ambos os processos.

- O que você acha das fontes de Sample? Faz diferença de alguma forma extrair o áudio de um vinil, por exemplo? Existe um valor cultural histórico nisso?

Dj Nato: O instrumental de rap tem sua raiz no vinil, isso é fato. Disco é cultura! Todos sabemos que grandes artistas do passado chegaram e chegam ao conhecimento de muitos graças à arte de samplear os discos de vinil. No meu caso, utilizo várias fontes, às vezes não consigo ser freqüente em sebos, então utilizo o mp3, o cd. Não deixaria de recortar um puta sample só pelo fato de estar em cd, ou mp3, claro, desde que a qualidade da fonte possibilite isso. O resultado final vai depender da sua técnica de criação, seus timbres, sua mix e sua master.

- Que beatmaker você acha inovador na arte de cortar samples? E o que acha dos Samples em bloco, aqueles que usam um grande trecho da música original quase sem alterações?

Dj Nato: O meu inovador é velho (risos). O DJ Premier sempre surpreende, você ouve algo novo dele, sabe que já ouviu algo parecido, que as caixas o chimbal o bumbo são os mesmos daquele outro som lá, mas sempre tem algo que soa como novo. É o mestre em cortar samples, e ponto final.
Os samples em bloco, os “loops”, não tenho nada contra, pelo contrário, já usei muito e se sentir a necessidade eu uso novamente. Vai da sua pesquisa, da timbragem nova que você dá ao loop. Clássicos e mais clássicos do rap brasileiro e gringo são loops, e tem tanto valor quanto qualquer outro beat tocado ou recortadão.



- Alguns músicos questionam a legitimidade do Sample como composição. Sample é uma composição? É uma criação musical?

Dj Nato: O sample é sim uma composição. Você pega o sample, dá nova roupagem, novo andamento, você cria uma música nova com essa amostra. Como disse anteriormente, dependendo da forma que você o utiliza, nem o próprio musico que o tocou ou o artista que cantou o vai reconhecê-lo.

- Na produção de Rap, que Beatmakers brasileiros se destacam hoje?

Dj Nato: DJ Duh nos Beats, Sala 70, Parteum, Nave, Renan Saman, StereoDubs, Luiz Café, DJ Caíque, DJ Max nos Beats, Skeeter, DJ Samu, Gedson Dias, Laudz, Dario nos Beats...Tem muita gente nervosa na cena.
Não podemos esquecer os pioneiros DJ Raffa, DJ Hum, DJ Cuca, Fábio Macari, KLJay, DJ Luciano, Erick12, GM Duda, DJ Marcelinho, MadZoo...

- Seu novo álbum sai ainda esse ano, certo? E ouvi dizer que vem com uma avalanche de convidados muito bons. Fala um pouco sobre ele.

Dj Nato: Depois de uns 3 anos trabalhando nesse álbum, chegamos à sua conclusão e fiquei mais do que satisfeito com o resultado dessa obra. O disco chega entre outubro e novembro e as participações são da pesada, mesclando as gerações do rap brasileiro e algumas participações de fora do país, tudo isso em 17 tracks.

São eles: Enézimo, Tio Fresh, Rappin Hood, Natanael Valêncio, Rodrigo Brandão, B. Negão, MC Rashid, Projota, Caprieh, Tiagão Redniggaz, André Sagat, EriQ.I, Marcello Gugu, Mamuti, Ulisses, Pevírguladez (RJ), Raphão Alaafin, Alexandre Cruz “Xandão”, Don Assis, Preto-R, Jeff Falcão, Master San Bass, Lews Barbosa, Toroká, , MC Stefanie, James Lino, DJ Big Edy, Carlus Avonts, Max-Musicamente, Paola Evangelista, MC 100%, Gaspar (Záfrica Brasil), Indee Styla (Barcelona), MC Cotur (Venezuela), Sagat Wonder e BloodZNO.



- Pra finalizar, um espaço livre pra você se expressar.

Dj Nato: Agradeço novamente o convite para essa entrevista no Sampleologia. Espero ter contribuído de forma positiva com o site.

Deixo alguns links para que todos possam conhecer um pouco mais do meu trabalho, e do Selo Pau-de-dá-em-doido, selo esse que me acolhe desde meus 16 anos de idade, minha escola, minha caminhada no rap devo a ele juntamente com meu irmão Enézimo.


Pau-de-dá-em-Doido é o Selo.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Entrevista com Laudz




Laudz, muito obrigado por separar um pouco do seu tempo pra responder nossas perguntas. É de grande valor ter um dos principais beatmakers do país no nosso blog.

Laudz: Eu que agradeço o convite, é uma imensa satisfação pra mim estar chegando com vocês no blog. Muito obrigado.


- Laudz, é evidente o progresso de Curitiba no cenário rap nacional nos últimos anos. Mc’s e principalmente produtores com trabalhos de muita qualidade. Ao que se deve isso?

Laudz: Bom, isso se deve ao ótimo trabalho que sempre foi feito aqui, principalmente a quem "colocou" a cidade no mapa, que não foram poucos, mas em relação aos beats deve-se muito ao Dario, Nel, Nave, Cabes e muito mais pessoas que tem uma longa trajetória aqui na cidade, e fez com que o trabalho feito aqui se espalhasse por todo o país, e pelo mundo.

- Hoje em dia o acesso a um computador e softwares é fácil, todo dia surgem novos beatmakers graças a essa facilidade. O que você vê de conseqüência nisso?

Laudz: Bom, não posso reclamar, pois se não fosse isso eu não estaria aqui, e acho que não tem quase nenhum ponto negativo, apenas o de quem acha que fazer beats é uma diversão e faz isso só por fazer, sem nenhum compromisso, só pra aparecer, creio eu.

- Você usa muito mais instrumentos virtuais do que sample, certo? Quais as diferenças entre essas duas técnicas na criação de um instrumental?

Laudz: A diferença é a criatividade. Tocando posso explorar mais, fazer exatamente o que eu quiser, já com o sample fico meio limitado a ele. Mas também pode-se explorar muito. Também uso samples, mas hoje em dia é bem difícil. Gosto muito de tocar, mesmo não sabendo, rss.


- Quantos anos você tem hoje e com qual idade começou a montar bases pra rap? Quais eram as ferramentas nesse início?

Laudz: Tenho 19 anos. Comecei no finalzinho dos 14, início dos 15, no início era apenas um computador bem antigo, e o FL, que uso até hoje.

- Esse ano seu trabalho chegou até os ouvidos do grande Dr. Dre. Nos conte qual foi a sensação e como aconteceu isso.

Laudz: Cara, não tem muito o que falar, simplesmente incrível. O que aconteceu foi que conheci o Tito Lopez, e ele gravou o primeiro single de trabalho dele em um beat meu, e ele é um artista em que o Dre está apostando, e pelo fato de ser o single, ele foi gravar essa música junto ao Dre no estúdio, que foi quando aconteceu isso, e que melhor ainda, ele disse que Dre gostou muito de outras produções minhas, ai é pra acabar, rsssss.

- O que você acha das fontes de Sample? Faz diferença de alguma forma extrair o áudio de um vinil por exemplo? Existe um valor cultural histórico nisso?

Laudz: Sem dúvida! Isso é muito importante e indiscutível. A sonoridade do vinyl é algo incomparável, e o valor histórico também né, que é como é feito desde o início, e nunca vai se acabar, apenas soma com as novas tecnologias.

- Que beatmaker você acha inovador na arte de cortar samples? E o que acha dos Samples em bloco, aqueles que usam um grande trecho da música original quase sem alterações?

Laudz: Aqui no Brasil, na minha opinião Renan Samam e Nave são os reis nisso. De fora o M-Phazes, Premier e J Dilla sao meus favoritos nesse aspecto. Quanto aos grandes trechos das músicas, não sou fã disso.

- Alguns músicos questionam a legitimidade do Sample como composição. Sample é uma composição? É uma criação musical?

Laudz: Sem dúvida! Pois o fato de você reconstruir a música é muito loco! E sem duvidas é uma composição. Apesar de alguns artistas não entenderem, é uma grande arte, e é sim uma composição.

- Na produção de Rap, que Beatmakers brasileiros se destacam hoje?

Laudz: Renan Samam, Nave, Dario, Casp, Jhow Produz, Skeeter, Coyote Beats, Scott são meus favoritos hoje em dia.

- Instrumentalmente falando, pra onde você acha que caminhará o Rap? Pra um lado cada vez mais eletrônico e virtual ou os instrumentos orgânicos vão fazer a vez no Futuro?

Laudz: Cara, não faço idéia. Cada dia surge coisa nova, creio que é algo que nao podemos imaginar, espero que seja pra um lado bom, rss.

- Você lançou há pouco tempo seu álbum, o que mais tem pra vir por aí?

Laudz: Lancei dia 26/06 meu album instrumental chamado Rollin With Da Best, e várias produções minhas que irão sair em discos no decorrer do ano, também tenho 2 trabalhos sendo feitos com mcs daqui, Bigue e Nairobi.


- Fique à vontade pras considerações finais.

Laudz: Agradeço a vocês pelo espaço, e a todos que correm comigo e me ajudam.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Entrevista com Mestre Arthur Verocai


Mestre Arthur Verocai, muito obrigado por gastar seu tempo precioso com nossa entrevista. É de imensa importância pros nossos estudos as palavras de um artista como você. Muito grato.


- Quando foi a primeira vez que você foi, ou ficou sabendo que foi sampleado? Qual foi a sensação de saber que sua música estava sendo reutilizada na produção de uma outra música, e o que achou disso?
Arthur: A primeira vez oficialmente foi em 2005, pelo Little Brother. Foi uma sensação nova, pois os conceitos são bem diferentes de uma música normalmente feita até então. No início, não entendi direito, mas depois tudo bem.


- Você considera os produtores e DJs de rap estadunidenses os responsáveis pela boa repercussão do seu agora clássico disco homônimo?
Arthur: De certa forma, sim, para a turma do hip-hop americano, pois o disco já tinha emergido no resto do mundo. Por isso, foi relançado em 2003, nos EUA.


- O que você acha do disco ter sido ignorado pela maioria do público consumidor na época do lançamento e, hoje, a rapaziada jovem estar curtindo? O disco era realmente avançado demais para a época?
Arthur: Ninguém gosta de ver seu trabalho ignorado. Na época, foi desagradável, mas depois, com o reconhecimento, fiquei satisfeito. Quem disse que eu estava a frente do meu tempo foi a imprensa americana.


- Tem notícia de algum produtor brasileiro que já tenha sampleado seu trabalho?
Arthur: Não.


- Nos EUA e nos países em que foi sampleado, a questão dos direitos autorais é justa? Qual é a sua opinião sobre o uso indevido de suas obras?
Arthur: Acho que a música popular é feita de melodia e letra. No caso, o sample faz a melodia e o rapper, a letra. Portanto, existe uma parceria e esta deve ser creditada aos autores, tanto da música quanto da letra.


- A música “Na boca do sol” é campeã entre as suas sampleadas. O que há de mais interessante na sua música que chama a atenção dos produtores de rap?
Arthur: É uma pergunta que deve ser feita para os que samplearam.


- Alguns músicos questionam a legitimidade do sample como composição. Qual é a sua opinião quanto a isso? Sample é uma composição? É uma criação musical?
Arthur: Encaro o sample com uma criação fonográfica-musical feita a partir de uma criação musical.


- Você participou do disco single “Tema do canibal”, do produtor de rap BK-One, com uma belíssima composição que abre o lado B do disco (no caso do vinil). Aconteceu então o processo inverso, um produtor de rap o convidando para compor uma música baseada em uma composição dele. O que achou de tudo isso? E qual foi a participação do DJ Nuts na produção dessa faixa?
Arthur: Não acho que foi um processo inverso, e sim o desenvolvimento de uma frase musical que fazia parte da música original. Foi interessante fazer uma coisa nova e posso dizer que o DJ Nuts foi o produtor.


- Aqui um espaço livre pras suas palavras, mestre.
Arthur: Considero um sample bem feito uma criação fonográfica-musical que está intimamente ligada com o discurso do intérprete.