Nato,
muito obrigado por separar um pouco do seu tempo pra responder as
perguntas pro Sampleologia.
- Como
foi seu início na produção dos beats? Quando começou e quais eram seus
recursos?
Dj Nato: Em primeiro lugar, obrigado
Nandes Castro pelo convite, acompanho esse excelente blog desde sua primeira
entrevista.
Sou DJ
desde 97 e comecei a fazer instrumentais em 2001 quando conheci pela primeira
vez um estúdio de gravação, estúdio esse do DJ Paul (RPW). Nessa época estava
rolando o processo de gravação do demo do grupo que eu fazia parte, o
Polemikaos.
Identifiquei-me
com o processo. O Paul explicava passo a passo como samplear, montar baterias e
tudo mais. Nesse mesmo período adquiri um Playstation 1 e, um amigo apresentou
um “jogo” da MTV em que era possível seqüenciar baterias, loops, synths e
tudo mais. Era bem parecido com os softwares que o Paul usava. Fuçando então,
eis que descobri que o vídeo-game sampleava alguns segundos de cd de áudio. Foi
a festa!
Um
dos instrumentais gerados no vídeo-game pode ser conferido na música “Sem Fama
e Sem Glória” do Polemikaos, música essa registrada em vinil, além de 8
instrumentais no álbum do Armagedon. Depois adquiri um PC, o André Sagat me
apresentou o Fruity Loops e a coisa foi evoluindo, desde então.
- Hoje em
dia o acesso a um computador e softwares é fácil, todo dia surgem novos
beatmakers graças a essa facilidade. O que você vê de conseqüência nisso?
Dj Nato: Realmente hoje temos uma grande
safra de beatmakers no Brasil. A cada dia aparece um novo. Pra mim é bacana ver
o grande interesse na área, mas é preciso se especializar no assunto, estudar,
praticar, treinar o ouvido para a música, buscar referências e encontrar a sua
característica como beatmaker, o que demanda tempo.
Hoje essa
“facilidade” também gera uma “facilidade” na hora de fazer a peneira do que é
bom e do que não é.
- Nas
suas composições você usa quase somente samples, tem alguma preferência por
algum gênero musical na hora de samplear?
Dj Nato: Não, não me prendo a estilos,
gêneros. Vai do momento de ouvir o sample e sentir que ele pode ser trabalhado.
Como recorto muito meus “sampleados” eles ficam praticamente irreconhecíveis.
Já useis e uso samples de várias décadas, 60´s, 70´s, 80´s e 90´s.
- Quais
são suas ferramentas na produção dos instrumentais?
Dj Nato: Temos um home estúdio com
os recursos rotineiros, mesa de som, mic, uma boa placa de áudio, monitores de
referências, etc.
Atualmente,
utilizo os velhos Sound Forge e Fruity Loops para criar as batidas. Utilizo
poucos instrumentos virtuais, mas tenho como controladoras uma Akai MPD32 e uma
Akai LPK25. Adquiri uma Akai MPC2000 e aos
poucos estou me adaptando a ela. Para o processo de gravação e mixagem utilizo o Logic.
- Você
além de beatmaker também atua como produtor musical? Todo Beatmaker é um
Produtor Musical?
Dj Nato: Com o passar dos anos, fui me
aproximando mais e mais dos processos em que minhas batidas estavam envolvidas.
Como temos um selo independente foi inevitável eu acabar me envolvendo com a supervisão
dos discos. Então hoje não sou só responsável pela criação das batidas, como
também participo e acompanho o processo de gravação, captação de instrumentos,
mixagem, alguns pitacos na masterização, até chegar ao produto final que é o
fonograma, o disco. Já tive a oportunidade de assinar álbuns inteiros
como produtor.
Completando
a resposta, nem todo beatmaker é um produtor musical. Alguns só são
responsáveis pelo processo de criação do instrumental e ponto.
- Explica
pra gente o que é o processo de mixagem e o processo de masterização?
Dj Nato: De forma bem simplificada, a
mixagem consiste em ajustar ou nivelar cada elemento da música, de forma que se
possa ouvir com clareza todos que ali fazem parte dela, ou seja, balancear
volumes, equalizações, efeitos, pan, compressão, deixando em uma margem de
volume para que possa ser trabalhado a masterização.
Na master é dado o tratamento final na musica fechada, nivelando volume final, equalização e compressão. Sempre busco referências em discos que gosto da qualidade para ambos os processos.
Na master é dado o tratamento final na musica fechada, nivelando volume final, equalização e compressão. Sempre busco referências em discos que gosto da qualidade para ambos os processos.
- O que
você acha das fontes de Sample? Faz diferença de alguma forma extrair o áudio
de um vinil, por exemplo? Existe um valor cultural histórico nisso?
Dj Nato: O instrumental de rap tem sua
raiz no vinil, isso é fato. Disco é cultura! Todos sabemos que grandes artistas
do passado chegaram e chegam ao conhecimento de muitos graças à arte de
samplear os discos de vinil. No meu caso, utilizo várias fontes, às vezes não
consigo ser freqüente em sebos, então utilizo o mp3, o cd. Não deixaria de
recortar um puta sample só pelo fato de estar em cd, ou mp3, claro, desde que a
qualidade da fonte possibilite isso. O resultado final vai depender da sua
técnica de criação, seus timbres, sua mix e sua master.
- Que
beatmaker você acha inovador na arte de cortar samples? E o que acha dos
Samples em bloco, aqueles que usam um grande trecho da música original quase
sem alterações?
Dj Nato: O meu inovador é velho (risos).
O DJ Premier sempre surpreende, você ouve algo novo dele, sabe que já ouviu
algo parecido, que as caixas o chimbal o bumbo são os mesmos daquele outro som
lá, mas sempre tem algo que soa como novo. É o mestre em cortar samples, e
ponto final.
Os
samples em bloco, os “loops”, não tenho nada contra, pelo contrário, já usei
muito e se sentir a necessidade eu uso novamente. Vai da sua pesquisa, da
timbragem nova que você dá ao loop. Clássicos e mais clássicos do rap
brasileiro e gringo são loops, e tem tanto valor quanto qualquer outro beat
tocado ou recortadão.
- Alguns
músicos questionam a legitimidade do Sample como composição. Sample é uma
composição? É uma criação musical?
Dj Nato: O sample é sim uma composição.
Você pega o sample, dá nova roupagem, novo andamento, você cria uma música nova
com essa amostra. Como disse anteriormente, dependendo da forma que você o
utiliza, nem o próprio musico que o tocou ou o artista que cantou o vai
reconhecê-lo.
- Na
produção de Rap, que Beatmakers brasileiros se destacam hoje?
Dj Nato: DJ Duh nos Beats, Sala 70,
Parteum, Nave, Renan Saman, StereoDubs, Luiz Café, DJ Caíque, DJ Max nos Beats,
Skeeter, DJ Samu, Gedson Dias, Laudz, Dario nos Beats...Tem muita gente nervosa
na cena.
Não
podemos esquecer os pioneiros DJ Raffa, DJ Hum, DJ Cuca, Fábio Macari, KLJay,
DJ Luciano, Erick12, GM Duda, DJ Marcelinho, MadZoo...
- Seu
novo álbum sai ainda esse ano, certo? E ouvi dizer que vem com uma avalanche de
convidados muito bons. Fala um pouco sobre ele.
Dj Nato: Depois de uns 3 anos trabalhando
nesse álbum, chegamos à sua conclusão e fiquei mais do que satisfeito com o
resultado dessa obra. O disco chega entre outubro e novembro e as participações
são da pesada, mesclando as gerações do rap brasileiro e algumas participações
de fora do país, tudo isso em 17 tracks.
São eles:
Enézimo, Tio Fresh, Rappin Hood, Natanael Valêncio, Rodrigo Brandão, B. Negão,
MC Rashid, Projota, Caprieh, Tiagão Redniggaz, André Sagat, EriQ.I, Marcello
Gugu, Mamuti, Ulisses, Pevírguladez (RJ), Raphão Alaafin, Alexandre Cruz
“Xandão”, Don Assis, Preto-R, Jeff Falcão, Master San Bass, Lews Barbosa,
Toroká, , MC Stefanie, James Lino, DJ Big Edy, Carlus Avonts, Max-Musicamente,
Paola Evangelista, MC 100%, Gaspar (Záfrica Brasil), Indee Styla (Barcelona),
MC Cotur (Venezuela), Sagat Wonder e BloodZNO.
- Pra
finalizar, um espaço livre pra você se expressar.
Dj Nato: Agradeço novamente o convite
para essa entrevista no Sampleologia. Espero ter contribuído de forma positiva
com o site.
Deixo
alguns links para que todos possam conhecer um pouco mais do meu trabalho, e do
Selo Pau-de-dá-em-doido, selo esse que me acolhe desde meus 16 anos de idade,
minha escola, minha caminhada no rap devo a ele juntamente com meu irmão
Enézimo.
Pau-de-dá-em-Doido é o Selo.